domingo, 23 de setembro de 2007

Carga de um Navio Holandês - século XVII

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. "Com cerca de 300 toneladas de carga, o Ceulen era mais pequeno que a média das embarcações envolvidas no comércio inter-oceânico naquela época. Levava 40 canhões e quanto partiu de Jacarta para a Holanda, em Janeiro de 1697, a tripulação contava com 105 homens, a que se acrescentaram 30 soldados, cinco artífices e dez inválidos. As acomodações a bordo para os inválidos e oficiais talvez fossem adequadas; mas todos os outros homens iam simplesmente a bordo.
Começando pela parte inferior, o porão continha 8 grandes âncoras de ferro acondicionadas entre 400 arcas de cobre japonês, 134 peças de estanho siamês, 50 000 ponds (cada pond tinha meio Kilo) de pau-brasil e umas apreciáveis 580 000 ponds de pimenta preta em grão (mais ou menos o mesmo peso que o próprio navio). Na parte superior, o cobro do porão, consistia em 1400 sacas de salitre (usado para fazer pólvora), 32 barris cheios de gengibre e 16 de noz-moscada e, isolada por trás de uma antepara montada para o efeito, 312 sacas de cravinho e 20 de cardamomo.
Por cima, estava espalhada a carga propriamente dita. A primeitra camada continha 75 arcas de porcelana chinesa, 72 sacas de pimenta branca, 52 arcas de benjamim e 47 pacotes de algodão, também algum fio de seda. A segunda e terceira camadas continham mais ou menos os mesmos produtos, embora com mais tecidos; a quarta, quinta e sexta consistiam quase exclusivamente em fardos de canela.
O lastro, o cobro do porão e a carga iam firmemente amarrados, de forma a impedir quaisquer movimentos e o porão era então coberto e trancado.
A história não acaba aqui... as cabines estavam atafulhadas de bens. Uma das cabines levava 17 000 ponds da melhor noz-moscada, mais sedas e 11 caixas de índigo... e 15 caixas de chá da chinês."

Keay, John, A Rota das Especiarias, Casa das Letras, Lisboa, 2007
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Infectado por Especiarias

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"Nenhum navio percorria a rota das especiarias carregado só com estas. O comércio entre o Oriente - Ocidente incluiu sempre uma variedade de outros bens, alguns de alto valor, como sedas, pedras preciosas e ouro ou prata em barra, e outros de alta densidade, como madeiras, melaço, metais e minerais. Estes últimos eram carregados não tanto pelo seu potencial para revenda, antes servindo para acondicionar as especiarias, que caso contrário se poderiam deteriorar ou contaminar umas às outras e para manobrar o navio, que, senão poderia voltar-se. Não se sabe quantos navios se perderam devido à deslocação da carga, mas são frequentes as queixas por os bens se terem estragado em trânsito. Fossem asiáticos, portugueses, ingleses ou holandeses, para serem carregados os navios precisavam de tanta cautela como para navegar."

Keay, John, A Rota das Especiarias, Casa das Letras, Lisboa, 2007